Como os Nossos Pais

Rosa (Maria Ribeiro), 38 anos, é uma mulher que se encontra em uma fase peculiar de sua vida, marcada por conflitos pessoais e geracionais: ao mesmo tempo em que precisa desenvolver sua habilidade como mãe de suas filhas, manter seus sonhos, seus objetivos profissionais e enfrentar as dificuldades do casamento, Rosa também continua sendo filha de sua mãe, Clarice (Clarisse Abujamra), com quem possui uma relação cheia de conflitos.

Data de lançamento 31 de agosto de 2017 (1h 42min)
Direção: Laís Bodanzky
Elenco: Maria Ribeiro, Clarisse Abujamra, Paulo Vilhena
Gênero Drama
Nacionalidade Brasil

O filme possui muitos elementos para podermos discutir, a intenção não é dar “spoiler”, mas sim, deixar pistas sobre o conteúdo. Esse filme é um convite a olhar para nós mesmos, nossas histórias, nosso mapa, possibilitando reflexões e, também, assumirmos nossas transgressões.
O filme tem um disparador que é quando a mãe de Rosa conta um segredo familiar – Rosa é fruto de um caso, uma traição e não é filha do pai que a criou – a partir daí Rosa fica com raiva da mãe, curiosidade sobre o pai biológico, sentimentos sobre o pai que conhece e inicia um processo de buscar quem ela é.
Nesse processo, Rosa passa por várias crises de identidade no trabalho e no casamento. Parece que durante toda a vida, ela acreditava que precisava dar conta de tudo, não sabe muito bem onde aprendeu isso, mas o filme deixa pistas. Rosa perde o emprego e se dá conta que trabalha muito, cuida da casa, de duas filhas e repensa o papel de mulher. Neste ponto o filme aponta as questões de gênero nas relações.
A partir disto Rosa começa a cobrar do marido mais presença em casa, mais participação no dia a dia, porém este sempre saí para os seus “projetos”. Rosa começa a suspeitar que esta sendo traída. Tem uma cena muito interessante que é quando o casal vai para terapia e ele reclama que não tem sexo e ela coloca que não tem desejo por estar cansada de tantas coisas, a terapeuta faz uma pergunta – você sente desejo por outra pessoa?
Às vezes com as rotinas a comunicação e conexão do casal acabam enfraquecendo, a pergunta da terapeuta fez Rosa perceber que sente desejo por outra pessoa sim, e que naquele momento a relação com o seu marido não estava boa. Neste ponto o filme traz um elemento super importante, as traições, não numa lógica de culpa, mas um olhar para as relações e histórias de casa um.
Outro ponto interessante é a relação com a mãe, onde Rosa começa a se diferenciar da forma como a mãe lida com a vida e isso melhora a relação das duas, pois se dá conta que não precisa concordar com a mãe em tudo.
As famílias possuem regras, normas que passam de geração em geração, e, às vezes, é importante transgredir, pois durando o ciclo da vida várias experiências acontecem a todo o momento e precisamos lidar com certas situações de forma diferente da forma que nos foi ensinado.
Enfim, existem muito outros elementos para discutir, mas gostaria de pinçar deste filme duas coisas: o segrede familiar, já que a partir dele houve uma série de desencadeamentos na vida de Rosa e a transgressão como forma de nos diferenciarmos dos nossos pais, mas não no sentido de ignorá-los, e sim, no sentido de nos aliviarmos e nos darmos conta que podemos viver a vida do nosso jeito, relacionando-nos da forma como nos sentimos melhor, sempre aprendendo sobre nós mesmos.
O segredo é ao mesmo tempo indispensável e temido, protege e invade, nutre e consome. Existem diversos temas que podem se transformar em grandes segredos num núcleo familiar. Podem estar relacionados a várias questões, no caso do filme, ao nascimento de Rosa, após isso ela entendeu a verdade da mãe e por que ela precisou guardar segredo. Não existe garantia quanto ao resultado na revelação de um segredo. Esta pode ser de efeito curativo ou de risco, assim como promover reconciliação ou divisão. No caso de Rosa, desencadeou um processo nela, de (re)ver sua história e a si mesma.
Vale lembrar que o filme é muito mais do que foi escrito aqui, as imagens em movimento dizem muito mais do que estas palavras. Filme super recomendado para assistir com a Família, com os Nossos pais…

Psic. Vinicius Cardoso Pasqualin