Valentin

“Valentin” é um filme que emociona do começo ao fim, desperta risadas e lágrima com muita sensibilidade. A história se passa em Buenos Aires no final dos anos 60, mostra a vida de um menino de oito anos que mora com a avó paterna. Desde que seus pais se separaram, quando ele tinha aproximadamente três anos, perdeu o contato com sua mãe, a quem espera até hoje e possui uma relação superficial com o seu pai, que o visita esporadicamente.

É um menino precoce, inteligente, sensível, porém muito solitário, seu grande sonho é se tornar Astronauta, mas o que realmente deseja é ter uma família. Por diversas vezes, seu pai o apresentou para suas namoradas, alimentando-o com a expectativa de ter uma nova mãe, no entanto, somente quando ele conhece Letícia, uma das namoradas de seu pai, é que a imagina como madrasta.

Valentin preocupa-se muito com a sua família, é compreensivo e tenta protegê-la, mas por vezes, não sente que isso seja recíproco. Passa a perceber que os adultos têm muitas fragilidades e que muitas de suas crenças podem ser modificadas.

Esse filme nos conta uma história onde a família se mostra deficitária em vários aspectos, mas principalmente no que diz respeito à falta de suporte e afeto com relação ao menino Valentin. A família de acordo com Ackerman (In Foley, 1990) possui dois objetivos: a garantia da sobrevivência física e a construção da qualidade humana essencial do homem, ou seja, condições psicológicas e econômicas adequadas para uma boa socialização com o meio. Nessa história o primeiro objetivo é alcançado com sucesso, porém o segundo não obtém o mesmo resultado, a não ser pela riqueza de recursos internos que o menino tem.

Valentin é um garoto solitário em meio de adultos, pois não possui irmãos. Um filho único, em geral, fica limitado em suas brincadeiras, faltando-lhe os prazeres que procedem da inconseqüência, da irresponsabilidade e da impulsividade, a tendência do filho único é ser precoce e preferir escutar e falar com adultos (Winnicott, 1979).

Além da condição de ser filho único, Valentin assume responsabilidades que não correspondem com a sua idade, podendo dessa forma causar um prejuízo na sua espontaneidade e sentir-se prejudicado por não estar podendo aproveitar sua infância (Winnicott, 1967).
Em termos sistêmicos podemos pensar na Escola Estrutural que entende esse tipo de situação como Fronteiras emaranhadas, em que o filho/neto é atraído para dentro de um subsistema parental, assumindo encargos que não condizem com sua condição (Minuchin, 1990).

Apesar dessas dificuldades, Valentin apresenta uma saúde mental e uma consciência de si e do mundo bastante impressionante, podemos pensar que é uma criança resiliente. Alguns estudiosos reconhecem a resiliência como um fenômeno comum e presente no desenvolvimento de qualquer ser humano, porém determinadas pessoas são mais e outras menos resilientes (Masten In Pinheiro, 2004).

Existem algumas teorias que tentam explicar porque há essa diferença, mas o que já está certo é que resiliência significa a capacidade rápida de recuperação. A esperança quanto ao futuro que as pessoas possuem quando submetidas ao sofrimento (Gonçalves, 2003). Valentin, apesar de tudo, continua acreditando na volta de sua mãe e que um dia conseguirá ter uma família.

O final dessa história é surpreendente, o menino que encanta por sua força, criatividade e capacidade de resiliência, consegue desfrutar dos seus amigos e das pessoas que lhe fazem bem, descobrindo dessa forma, que não necessita mais fugir para outro planeta.

Referências

Foley, V. (1990). Introdução à terapia familiar. Porto Alegre: Artes Médicas.
Gonçalves, M. J. Aumentar a resiliência das crianças vítimas de violência. Retirado em 12/01/2009 do World Wide Web: http://www.scielo.oces.mctes.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0870-82312003000100004&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 0870-8231
Minuchin, S. (1990). Famílias: Funcionamento & tratamento. Porto Alegre: Artes Médicas.
Pinheiro, D. P. N. A resiliência em discussão. Retirado em 12/01/2009 do World Wide Web: Acesso em 12/01/2009.
Winnicott, D. W. (1967). La familia y el desarrollo del individuo. Buenos Aires: Ediciones Hormé.
Winnicott, D. W. (1979). A criança e o seu mundo. Rio de Janeiro: Zahar Editores.

Cristina Fiad Aragonez