Pensando Famílias vol. 13, nº 1

Pensando Famílias vol. 13, nº 1, apresenta nesta edição artigos de autores nacionais e internacionais sobre temas de casal e família, com ênfase em textos clínicos, onde podemos desfrutar de uma leitura produtiva e interessante sobre as ideias de autores renomados.
Os autores nacionais escrevem sobre violência sexual, identidade homossexual, luto materno, ninho vazio, conflitos familiares e sobre o contexto terapêutico na prática educacional.
Temos as contribuições de J. A. Rios González (Espanha) que relata sobre seu trabalho como terapeuta e C. Casula (Itália) que escreve sobre metáforas.

Esta edição completa os dez anos em que viemos publicando artigos sobre casais e famílias Como já foi dito, formamos uma grande equipe entre os membros da Comissão Editorial, consultores nacionais e internacionais, consultores ad hoc, autores, leitores e membros dos comitês de avaliação para indexação, que dançam de forma coesa e harmoniosa a música da terapia familiar. Sem o interesse e a dedicação de qualquer uma dessas partes, a revista não se consolidaria.

Nesses dez anos ocorreram muitos fatos que contribuíram para o aprimoramento do conhecimento humano, inclusive a criação de revistas e livros digitais – e-books. Novos hábitos foram criados, mas ainda há leitores que apreciam segurar em suas mãos o papel impresso, podendo ler e repetir a mesma leitura de forma agradável e habitual, submetendo este texto a um novo olhar, ressignificando o que, anteriormente, foi entendido. Isso é especialmente relevante quando nos reportamos ao fato de que nestes anos de publicação tivemos uma gama de assuntos abordados com questões referentes aos sistemas individual, casal, família e sistemas amplos como comunidade, empresa e escola. Reler estes textos que, de alguma forma, contribuíram para o aprimoramento de nosso trajeto profissional, propor novos significados permitindo que possamos perceber mudanças em nós mesmos, é enriquecedor.

Nossa proposta é continuar, dentro do possível, congregando profissionais comprometidos com a expansão da terapia familiar que estejam disponíveis a transmitir suas reflexões e experiências nesta área e, por meio de um trabalho conjunto, difundi-las a um maior número de pessoas através das publicações da Pensando Famílias.

Iniciando os artigos desta edição, C. Sluzki apresenta um tema instigante e de grande interesse: pais e bebês difíceis. Este não é o sonho que os pais têm ao esperarem seus filhos, o ideal é que o filho, muitas vezes ansiosamente esperado, seja o mais perfeito possível, vindo preencher um espaço carinhosamente destinado a ele. Como podem pais difíceis e bebês difíceis se ajustarem? Isto é possível? Sluzki nos apresenta um modelo de “ajuste recíproco” entre pais e bebês.

D. F. Schnitman e E. Rotenberg escrevem sobre negócios e família, a relação empresa-família compreendida sob duas perspectivas com enfoques diferentes: empresa familiar e família empresária. Em seu trabalho, as autoras nos conduzem entre as articulações complexas que se encontram entre o familiar e o empresarial, mostrando possibilidades frente a situações vulneráveis e como buscar recursos para construir alternativas para alcançar uma organização eficiente.

J. Landau, J. Garrett e R. Webb revelam em seu trabalho uma situação que está preocupando muitos casais e famílias: o sexo virtual e a dependência da Internet. Muitas vezes, o uso inadequado desta tecnologia leva indivíduos a se distanciarem de seus pares, assumindo comportamentos diferentes do usual na relação, desenvolvendo uma dependência compulsiva referente à pornografia na Internet e sexo virtual. Os autores apresentam uma ferramenta que permite a família, de forma mais competente, engajar o membro dependente à terapia.

M. C. Ravazzola traz um tema relevante na atualidade: gênero. Ela afirma que expectativas sociais depositadas nos papéis masculino e feminino, criam um sistema de crenças e pressupostos que nos anestesiam como terapeutas, impedindo-nos de realizar uma ajuda mais efetiva àqueles que nos consultam. Comenta experiências clínicas onde, pela diversidade de gênero, aparecem as anestesias e as formas que levam às decisões terapêuticas e expõe a maneira de reconhecê-las e como usar estratégias de conversação para torná-las inativas. Surge então, com especial ênfase na diversidade de gênero e na importância das relações no âmbito da vida cotidiana, algumas afirmações próprias destes sistemas de crenças distorcidas, modos de reconhecimento e de estratégias de conversação para desarmá-los.

L. Levy trata em seu trabalho sobre a dificuldade dos casais lidarem com suas diferenças, especialmente as diferenças de tempo e sobre como as famílias de origem influenciam seus descendentes quanto à administração do tempo, ritmos e velocidade. Isto leva os casais a constantes conflitos de lealdade. É interessante constatar como a autora apresenta a possibilidade da criação de um tempo sagrado, onde as diferenças passam a ser percebidas como produtivas e não como disputas pelo poder.

A. S. Zanonato e E. R. Carvalho apresentam um instrumento que pode ser utilizado em terapias de casal e família: o EMDR (Eye Movement Desensitization and Reprocessing – Dessensibilização e Reprocessamento por meio de movimentos oculares). O EMDR pode ser utilizado em pessoas que viveram experiências traumáticas no passado e que, atualmente, estão causando dificuldades em seus relacionamentos. As autoras mostram sua eficácia nos casos que apresentam Transtornos de Estresse Pós-Traumáticos (TEPT), ilustrando com dois casos clínicos.

H. M. Cruz escreve sobre o “giro linguístico”, conceituado como uma crítica filosófica à concepção representacional da linguagem. A autora diz que o viver em grupos e o desenvolvimento da narrativa é o que caracteriza o ser humano. Discorre sobre a importância da linguagem humana, referindo que a mesma faz coisas em vez de representá-las. Relata também uma experiência realizada por uma equipe de profissionais, da qual a autora faz parte, com mães e bebês, mostrando o processo desenvolvido para alcançar uma melhor compreensão e resultados coerentes com a noção de transtornos graves do contexto.

A. C. Amaral escreve sobre as dimensões histórico-antropológicas da identidade terapêutica, propondo uma revisitação nos conceitos mais arraigados sobre o que somos e o que fazemos. Segundo o autor sempre que haja um encontro com um novo sistema revisamos nossas práticas, revisitando o que pensamos sobre nossa identidade. Utiliza a Etnopsiquiatria como referencial para os questionamentos que propõe.

As autoras D. F. Duque, C. D. de Souza e E. M. P. da C. Cromack entendem a instituição escolar como um sistema, considerando a variedade de fatores envolvidos e as interações que ocorrem entre eles. Desta forma, ao pensar sobre os processos humanos, utilizam um modo multicausal contrapondo-se ao entendimento linear tradicional. Escrevem sobre como realizam uma consultoria escolar e o tipo de intervenção que proporcionam resultados eficazes. Ilustram o seu trabalho com o relato de dois exemplos realizados pelo grupo Ciranda.

M. B. R. Ricci escreve sobre pesquisa realizada com famílias que cumpriam medida legal, de natureza protetiva, por terem crianças e adolescentes abusados sexualmente. Estas famílias necessitam de ajuda profissional para se reorganizarem, a fim de conseguirem evitar que novas situações de violência venham a ocorrer. Trazem para discussão a relação entre a vergonha de um abuso sexual e a possibilidade de recuperação das pessoas abusadas e seus familiares e os sentimentos dos profissionais que atendem estes casos.

D. L. de Sousa, R. B. Santos e T. de Almeida buscam compreender significados da infidelidade em mulheres que foram infiéis dentro de um relacionamento conjugal, tema extremamente complexo. Para tal utilizam uma pesquisa realizada com cinco mulheres, sendo que os resultados evidenciaram a insatisfação destas mulheres com seus parceiros e, o fato de encontrar em outros homens o que não percebiam nos primeiros, fez com que decidissem pela busca de novos relacionamentos afetivo-sexual.

Com estes artigos encerramos nossa edição comemorativa dos dez anos de existência da Pensando Famílias.

Helena Centeno Hintz

Bebês Difíceis, Progenitores Difíceis. Um Modelo Baseado no Ajuste Recíproco

Carlos E. Sluzki [1]

Resumo

Na vida cotidiana, a suposição de que nossos filhos “são uma benção” que nos traz, desde o início, paz e felicidade, esbarra com a realidade de que de tanto em tanto nascem filhos que desde o início são percebidos pelos pais (e às vezes pela comunidade de profissionais consultados) como difíceis e frustrantes – e talvez, se os bebês falassem, viceversa – gerando círculos viciosos que conduzem a profecias autocumpridoras. Este artigo discute de maneira um tanto interativa o problema complexo do “ajuste recíproco” entre os estilos do bebê e dos pais.
Palavras-chave: exercício sistêmico; epistemología de influências recíprocas; ajuste recíproco entre pais e bebês.


Difficult Babies, Difficult Parents. A Model Based on Reciprocal Fit

Abstract

In our daily life, the assumption that our children “are a bless” that bring us peace and happiness from the beginning contrasts with the fact that now and then there are children who, from the start, are seen by their parents (and by the community of consulted professionals as well) as difficult and frustrating – and maybe, if babies could speak, they would say the opposite – creating a vicious circle that leads to autofullfilled profecies. This text discusses in an interactive manner the complex problem of the “reciprocal fit” between the baby and the parents styles.
Keywords: systemic exercise; reciprocal influences episthemology; reciprocal fit beween parents and babies.

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[1] Professor, Departmento de Global and Community Health, College of Health and Human Services, e Institute for Conflict Analysis and Resolution. George Mason University, Fairfax, Virginia, USA.

Carlos Sluzki

Negócios e Famílias: Promovendo Recursos[1]

Dora Fried Schnitman[2]
Eva Rotenberg

Resumo

Este artigo propõe a compreensão e a abordagem da complexa relação empresa-família distinguindo duas modalidades de funcionamento: a empresa familiar – prioriza as problemáticas e dinâmicas afetivas e vinculares da família sobre as empresariais – e a família empresária – prioriza o crescimento da empresa e as questões vinculadas ao manejo da direção da economia. Ocupa-se especialmente das articulações e dilemas entre os contextos familiar e empresarial, de como diferenciá-los, de seus aspectos positivos e vulnerabilidades, e da qualidade das conversações e dos recursos para potencializá-los.

O artigo apresenta uma perspectiva, recursos e ferramentas para diagnosticar a situação de uma empresa, distinguir contextos familiares e empresariais, construir alternativas frente a situações problemáticas e reorganizar-se produtivamente. Apresenta exemplos de diferentes tipos de empresas, culturas e problemáticas que ilustram a utilização dos recursos propostos.
Palavras-chave: Família empresária; empresa familiar, abordagem conversacional da família empresária.


Business and Families: Promoting Resources

Abstract

This article sets out to discuss the complex family-business relationship by distinguishing two distinct modalities: the family business and the business family. The first of these terms refers to endeavors that privilege the growth and management of the business while also taking into account interpersonal family-related questions. The second, on the other hand, prioritizes emotional issues and family dynamics over strictly business concerns. The article focuses mainly on the connections and dilemmas between family and business contexts, how to differentiate those contexts, the positive aspects and the vulnerabilities they entail, as well as the quality of conversations and resources available to positively empower them.

The article presents a perspective, as well as resources and tools, in order to diagnose the situation of a company, distinguish family and business contexts, construct alternatives in the face of problematic situations and effect productive reorganization. It offers examples of different types of businesses, cultures and problematics that illustrate how to use the resources discussed.
Keywords: Entrepreneur family; family firm; conversational approach of the entrepeneur family.

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[1] Em I. Fernández (org.) (no prelo), Innovaciones en psicología de las organizaciones. J. C. Sáez Editor.
[2] Ph. D. em Psicologia. Diretora da Fundación Interfas. Professora da Universidad de Buenos Aires, Argentina.

Dora F. Schnitman; Eva Rotenberg

Assistindo uma Pessoa Interessada em Motivar Alguém vivenciando Sexo Virtual a Entrar em Tratamento
Aplicação da Intervenção por Convite: O Modelo ARISE de Sexo Virtual


Judith Landau[1]
James Garrett[2]
Robert Webb[3]


Resumo

O sexo virtual e a dependência de pornografia na Internet são novas áreas de problemas enfrentados por casais e famílias. A experiência mais significativa a induzir os membros da família, a buscar um terapeuta ou um intervencionista, para ajudá-los com os seus familiares doentes, é a percepção de que o indivíduo com quem estão vivendo tornou-se um estranho. Este artigo centra-se nas mudanças de atitudes, emoções e comportamentos do indivíduo dependente do uso compulsivo de pornografia na Internet e sexo virtual. A identificação dessas mudanças para membros da família valida a sua experiência de estarem, no presente, vivendo com um estranho. Assim, este artigo apresenta três níveis baseados empiricamente no manual do método de Intervenção por Convite – Sequência de Intervenção Relacional para o Engajamento (ARISE) como uma ferramenta eficaz para ajudar as famílias a levar um de seus membros à terapia.
Palavras-chave: Sexo virtual; adição sexual; relações conjugais.


Assisting a Concerned Person to Motivate Someone Experiencing Cybersex into Treatment
Application of Invitational Intervention: The Arise Model to Cybersex


Abstract

Cybersex and Internet pornography addiction are new problem areas confronting couples and families. A most significant experience inducing family members to reach out to a therapist or an Interventionist for help with their addicted member is the realization that the individual they are living with has become a stranger. This article focuses on the changes in the attitude, emotions, and behaviors of the addicted individual from compulsive Internet pornography use and cybersex. Identifying these changes for the family members validates their experience of now living with a stranger. This article then presents the three-level empirically based, manual-driven method of Invitational Intervention, A Relational Intervention Sequence for Engagement (ARISE) as an effective tool for helping families to get their loved ones into treatment.
Keywords: Cybersex; sexual addiction; couple relations.

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[1] Judith Landau e James Garrett são fundadores do Linking Human Systems, LLC, e da Fundação LINC, Inc., organizações promotoras de resiliência e saúde mental, integração social, e conexão de individuos, famílias, e comunidade a superar desafios e alcançar objetivos. LINC oferece consultoria, treinamento, e pesquisa com métodos práticos e de condução empírica. Judith Landau, MD, DPM, LMFT, CFLE, CAI, BRI II, é psiquiatra infantil, terapeuta familiar, e comunitária; consultora da Fulbright; Presidente da Linking Human Systems, LLC, e LINC Foundation, Inc.; e Directora do Centro de Recursos de Recuperação Boulder and Vail Valley, Colorado.
[2] James Garrett, LCSW-R, CAI, BRI II, é Vice-Presidente do Linking Human Systems, LLC, e LINC Foundation, Inc. Diretor do Centro de Recursos de Recuperação, Albany, New York.
[3] Robert Webb, MD, CAI, possui certificado da American Society of Addiction Medicine. Trabalha em clínica privada especializado em Intervenção ARISE pelo Albany Recovery Resource Center.

Os autores agradecem os editores convidados por sua prévia revisão da versão do artigo e seus úteis comentários.

Judith Landau

Gênero e Terapias Sistêmicas

Maria Cristina Ravazzola[1]

Resumo

As expectativas sociais, sobre os papéis que homens e mulheres desempenham na nossa cultura ocidental, levam-nos a participar em sistemas de crenças e pressupostos que nos anestesiam e fazem-nos tomar decisões que não ajudam aqueles que nos consultam. Isso nos leva a pensar que precisamos treinar a revisão de estes pressupostos e as suas consequências. Neste artigo comento acerca de uma série de experiências clínicas em que aparecem essas anestesias e as formas que condicionam as decisões terapêuticas. Surge então, com especial ênfase na diversidade de gênero e na importância das relações no âmbito da vida cotidiana, algumas afirmações próprias destes sistemas de crenças distorcidas, modos de reconhecimento e de estratégias de conversação para desarmá-los.
Palavras-chave: Consciência de gênero; vida cotidiana; anestesia; sistema de crenças.


Gender and Sistemic Therapies

Abstract

Expectations on the roles women and men should play in our western cultures involve us in belief systems that anesthetize us and influence on decisions in ways that do not help our consultants so, we think that we need to be train in how to be aware of such assumptions and consequences. Some clinical experience can illustrate those anesthesia and the ways they conditionate therapeutical decisions. Focusing on gender diversities and the importance of relationships in everyday life I describe some statements belonging do these belief systems, ways to recognize them and conversational strategies to de–construct them.
Keywords: Gender awareness; everyday life; anesthesia; belief systems.

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[1] Médica, Especialista em Psiquiatria, Terapeuta Familiar.

A Saga (dores e prazeres) dos Casais em um Mundo sem Fronteiras

Resumo

Devido às mudanças ocorridas na pós-modernidade com a globalização e os avanços da tecnologia da informação, aproximando indivíduos de países distantes, a autora constata na clinica que os casais sofrem por não saberem lidar com suas diferenças. Além das conhecidas diferenças de ritos, mitos, crenças, religiões etc…, o artigo focará nas questões de tempo (Chronos). Ou seja, será abordado o fato de que as famílias de origem também influenciam na maneira como as pessoas administram seu tempo, ritmos e velocidade. Por isso, os conflitos de lealdades visíveis e invisíveis provocam lutas de vida ou morte entre o casal. Baseada principalmente em Fraenkel e Wilson e suas pesquisas no Ackerman Institute serão sugeridos modos e formas de ver e resolver questões aparentemente insolúveis para eles. Será apontado como pode ser criado um tempo sagrado (Kairos) onde as diferenças se tornam uma complementaridade produtiva e lúdica ao invés de uma guerra de poder.
Palavras-chave: Chronos; Kairos; famídia; complementaridade produtiva.


Couples`Saga (pains and pleasures) in an Unbounded World

Abstract

Due to the changes that occurred in the post-modern world, with the globalization and the development of the technology of information, joining people from far away countries, the author observes in her practice that couples suffer as they do not know how to deal with their differences. Besides differences concerning rituals, myths, beliefs, religions and so on and so forth, this paper will focus in questions of time (Chronos). It will be studied the fact that the families of origin influence the way people handle their time and rhythm. Thus, the visible and invisible loyalty conflicts degenerate into life and death fights between the couple. Based on Fraenkel and Wilson and their researches at the Ackerman Institute it will be suggested ways and methods of detecting and solving seemingly insolvents questions. It will be pointed out, also how a sacred time (Kairos) can be created where differences become a playfull and productive complementarity instead of a power struggle.
Keywords : Chronos; Kairos; famidia; productive complementarily.

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[1] Psicóloga, Psicanalista, Terapeuta de Família e de Casais, Psicodramatista, Mestre em Psicologia Clinica (PUC-RJ). Docente e Didata no Delphos Espaço Psicossocial e no Integrare Individuo, Família e Sociedade.

Uso do EMDR na Terapia de Casais e Famílias

Adriana Selene Zanonato[1]
Esly Regina Carvalho, MA, LPC, TEP[2]

Resumo

O presente trabalho pretende mostrar a validade do EMDR (Eye Movement Desensitization and Reprocessing – Dessensibilização e Reprocessamento por meio de movimentos oculares) como um instrumento útil em terapias de casais e famílias, quando experiências traumáticas do passado estão dificultando o relacionamento entre seus membros. Ressaltam como essa abordagem tem-se mostrado eficaz no tratamento dos Transtornos de Estresse Pós-Traumáticos (TEPT) e em todas as disfunções dele decorrentes. Discutem o conceito de trauma e a forma como, junto com as vivências traumáticas, se mantêm inalteradas as memórias e as emoções a ela associadas, bem como as crenças negativas construídas a partir delas. As autoras relatam dois casos clínicos e ilustram como esse recurso pode ser utilizado. Finalmente, consideram a importância da integração de diferentes teorias e técnicas por parte dos terapeutas contemporâneos para um atendimento mais eficaz de seus pacientes.
Palavras-chave: EMDR; TEPT; traumas; casais e famílias.


The Use of EMDR in Families and Couples Therapy

Abstract


The present paper intends to show the validity of EMDR (Eye Movement Desensitization and Reprocessing) as a useful tool in therapies of couples and families, when traumatic experiences from the past are making difficult the relationship between its members. It stands out how this approach has revealed efficient in the treatment of Post traumatic stress disorder (PTSD) and associated disfunctions. It talks over the concept of trauma and the way how, with traumatic experiences, the memories and the emotions connected to them, as well as the negative beliefs created from them remain unchanged. The authors report two clinical vignettes and illustrate how this resource can be used. Finally, they take into account the importance of integrate different theories and approaches by contemporary therapists for a more efficient assistance of their patients.
Keywords: EMDR; PTSD; trauma; couples and families.

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[1] Psicóloga clínica, terapeuta de indivíduos, casais e famílias, especialista em terapias cognitivo-comportamentais. Membro da equipe formadora do Instituto da Família de Porto Alegre – INFAPA – Certificada pela EMDRIA – EMDR International Association. Membro da EMDR-Brasil.
[2] Psicóloga, mestre em Psicologia (UnB), Senior Trainer em EMDR e Trainer of Trainers pelo EMDR Institute, com atuação em vários países da América Latina, Portugal e Espanha.

Do Ato à Fala – Cenas dos Próximos Capítulos
Helena Maffei Cruz[1]

Resumo

Este artigo apresenta alguns desenvolvimentos teóricos de psicólogos a partir do que foi denominado como “giro linguístico” – uma crítica filosófica à concepção representacional da linguagem, e uma proposta de considerá-la uma atividade. Essa mudança provocou redescrições radicais sobre a própria natureza do conhecimento e uma reformulação da relação deste com a realidade que, por sua vez, redefiniu o próprio conceito de realidade. Essa corrente está presente no movimento do construcionismo social e desloca a busca de compreensão da “natureza humana” para a constituição das subjetividades nas relações significativas, com ênfase nas possibilidades de construção de si mesmo e de mundo da criança, com seus cuidadores. Apresenta uma experiência com mães e bebês realizada pela Dra. Gerda Verden-Zôller e propõe uma compreensão dos chamados transtornos do desenvolvimento ou do comportamento, levando em conta o que seriam “transtornos graves do contexto”. Palavras-chave: Relação; jogos corporais; jogos de linguagem; transtornos do contexto.



Form Acting to Speech – Flashes of the Next Chapters

Abstract

This article presents some theoretical developments born out of the “linguistic turn” – the philosophical criticism of the concept of language as reality representation, which proposes language as Action. This turn meant a radical new description of the nature of knowledge, a new comprehension of the relationship between knowledge and reality, which changed the concept of reality itself. This thoughts can be found in the social constructionist movement and replace the concepts of “human nature” for the one of subjectivity constitution in meaningful relationships, It focus specially on the possibilities of children’s self and world construction, in relations with their caregivers. It presents an experience with mothers and babies carried out by Dr Gerda Verden-Zôller and offers an alternative description for the so called development or behavior disorders, including what is named by “serious context disorders”
Keywords: Relation; body games; language games; context disorders.

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[1] Socióloga, psicóloga, mestre em psicologia clínica, terapeuta familiar, sócia fundadora e docente do Instituto FAMILIAE, SP.

Curandeiros Pós-modernos: Uma Compreensão Etnopsiquátrica da Identidade Terapêutica

Alexandre Coimbra Amaral[1]

Resumo

A Etnopsiquiatria surgiu na Europa do pós-guerra como uma alternativa novo-paradigmática à excessiva patologização da Psiquiatria Clássica. Propunha uma releitura relativista dos transtornos mentais, incorporando elementos da cultura de origem do paciente como elementos redefinidores das categorias diagnósticas e, ao mesmo tempo, como parte da intervenção que se provou mais eficaz do que aquelas mais tradicionais e centradas em farmacoterapias. Este artigo propõe uma releitura das dimensões histórico-antropológicas da identidade terapêutica, a partir das contribuições deste campo emergente da Psiquiatria. Além disso, algumas habilidades que são exigidas no setting clínico são explicitadas de forma mais precisa, em um diálogo que releva alguns dos desafios mais frequentes para a construção contínua de nossa identidade profissional.
Palavras-chave: etnopsiquiatria; cultura; identidade; terapeuta.


Post-modern Healers: An Ethnopsychiatric Understanding of the Therapist’s Identity

Abstract

Ethnopsychiatry originated in post-warEurope as a new paradigm and alternative to the excessive pathologization of Classic Psychiatry. At the time, this trend presented a relativist review of mental disorders, which incorporated elements of the patient’s culture of origin as a tool that could redefine diagnostic categories and, at the same time, prove to be more efficient than traditional and drug-oriented interventions. This article brings forth a review of the historical-anthropological dimensions of the therapist’s identity based upon the contributions of this emerging field in Psychiatry. In addition, it examines the skills that are necessary within the clinical setting. This discussion hence establishes a dialogue which reveals some of the most frequent challenges faced by therapists in the continuous path to professional identity building.
Keywords: ethnopsychiatry; culture; identity; therapist.

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[1] Psicólogo, Terapeuta Familiar e de Casal. Mestre em Psicologia Clínica pela Pontificia Universidad Católica do Chile. Professor de graduação e pós-graduação em Psicologia. Docente da Residência Multiprofissional em Saúde Mental da UFBA. Fundador e Diretor do Instituto Humanitas, centro formador de terapeutas familiares sistêmicos em Salvador (BA).

Ciranda: Um Olhar Diferenciado sobre a Escola

Denise Franco Duque[1]
Carolina Duarte de Souza[2]
Eliane Maria P. da C. Cromack [3]

Resumo

A instituição de ensino em sua totalidade pode ser concebida como um sistema, um conjunto de relações entre seus diferentes membros, no qual cada parte interage com outra e a mudança em uma parte ou membro repercute em mudanças em todo o sistema. Apesar de a percepção individualizada das dificuldades constituir-se numa das vias mais difíceis para a busca de soluções e numa das condições para a manutenção dos problemas, os sistemas educacionais em geral, e os profissionais que neles atuam, ainda tendem a buscar explicações lineares e intra-psíquicas para as dificuldades apresentadas por funcionários, alunos ou turmas. O grupo Ciranda Consultoria Relacional Sistêmica em Instituições de Ensino se propõe a apresentar aos leitores subsídios que os auxilie a ampliar a compreensão da realidade escolar e seus problemas, promovendo a atualização teórica, técnica e prática, a partir da visão relacional sistêmica.
Palavras-chave: escola; teoria sistêmica, consultoria escolar.


Screening: A Contrasting Look on School

Abstract


The educational institution as a whole may be understood as a system, a set of relationships among its different members, in which each part interacts with another and a change in one part or member reflects in changes throughout the system. Although the perception of individual problems constitutes one of the most difficult way to search for solutions and one of the conditions for maintaining the problems, the educational systems in general and the professionals who work with them, still tend to seek linear and intra-psychic explanations to the difficulties presented by staff, students or classes. The group Ciranda Consultoria Realacional Sistêmica em Instituições de Ensino presents in this paper subsidies that would help broaden the understanding of the school’s reality and its problems, promoting theoretical, technical and practical upgrade, from the systemic relational view.
Keywords: school; systemic theory; scholar consulting.

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[1] Coordenadora do Ciranda e do Familiare Instituto Sistêmico, Psicóloga Especialista Clinica, CRP 07/00050.
[2] Consultora do Ciranda, psicóloga do Educandário Santa Catarina, e psicóloga clínica em fase final do curso de especialização em terapia relacional sistêmica pelo Familiare Instituto Sistêmico, CRP 12/07019.
[3] Psicóloga clínica, consultora do Grupo Ciranda, finalizando curso de especialização em terapia relacional sistêmica pelo Familiare Instituto Sistêmico, CRP 12/05513.

Reflexões de Pesquisas: O Abuso Sexual e a Vergonha

Maria Beatriz Rios Ricci[1]

Resumo

Abrimos, nesse artigo, uma discussão sobre a relação entre a vergonha de um abuso sexual e a recuperação das pessoas sexualmente abusadas e seus familiares. Incluímos nessa reflexão a relação dos profissionais que trabalham para a recuperação dessas pessoas e o seu próprio sentimento frente à vergonha no contexto de trabalho.
Palavras-chave: abuso sexual; vergonha; recuperação.


Reflections of Research: Sexual Abuse and Shame

Abstract

We opened in this article a discussion about the relationship between shame of sexual abuse, and the recovery of sexually abused and their families. We included in this reflection the relation of professionals working in the rehabilitation of these people, and their own feeling when facing shame in the work context.
Keywords: sexual abuse, shame, recovery.

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[1] Assistente Social, Terapeuta da Família e Casal, especialistaem Violência Doméstica, pesquisadora, supervisora e professora da PUC Minas, membro titular da AMITEF – Associação Mineira de Terapia Familiar.

Vivências da Infidelidade Conjugal Feminina

Débora Lago de Sousa [1]
Rosita Barral Santos [2]
Thiago de Almeida[3]

Resumo

A infidelidade provoca as mais variadas emoções e reações entre parceiros que a vivenciam. O presente estudo busca compreender significados da infidelidade para mulheres que já foram infiéis na relação conjugal. Este estudo utilizou o método qualitativo de pesquisa, e o instrumento de coleta de dados foi entrevista semi-estruturada. Participaram desta pesquisa cinco mulheres com faixa etária variando entre 30 e 38 anos. A análise dos resultados propiciou a estas categorias: 1) A frustração e a insatisfação na relação conjugal; 2) O envolvimento emocional como justificativa para a infidelidade; 3) A dupla moral sexual; 4) A culpa e o arrependimento pela infidelidade; 5) O prazer na relação extraconjugal; 6) A infidelidade culminando na separação conjugal. Os resultados evidenciaram que a insatisfação dessas mulheres com seus relacionamentos e o fato delas encontrarem em outros homens atributos que não eram percebidos em seus parceiros, as levam a um novo envolvimento afetivo-sexual. Também foi relatado o sentimento de culpa em função da discriminação e do julgamento que a sociedade faz com as mulheres infiéis. Os conhecimentos dos significados da infidelidade apontados nesta pesquisa podem ser úteis ao campo da Psicologia para auxiliar na vivência destas mulheres, contribuindo para a maior compreensão das relações.
Palavras- chave: Infidelidade; casamento; relações homem-mulher; amor.


Experiences on Wive’s Infidelity

Abstract


Infidelity brings about strong emotions and reactions among partners who experience it, feelings like surprise, disappointment, low self-esteem, depression, anguish, guilt, anger, suicide and passionate crimes. The present study tries to understand infidelity’s meanings for women who have been unfaithful in conjugal relationships. This study utilized a qualitative research method and the data collection instrument was a semi-structured interview. Five women with ages ranging from 30 to 38 participated in this study. Data analysis provided six categories: 1) frustration and dissatisfaction in relationship; 2) emotional involvement as justification for betrayal; 3) Double sexual moral; 4) Guilt and repentance for betrayal; 5) Pleasure in extra conjugal relationship; 6) Betrayal leading to separation. The results have shown that dissatisfaction with the current relationship and finding in other men attributes not found in partners led these women to a new emotional involvement. Guilt feeling related to discrimination and society’s judgment was also related by the participants. The knowledge about the meanings of infidelity pointed in this study can be useful to Psychology in order to help in these women experiences, as well as contribute to a greater understanding of conjugal relationships nowadays.
Keywords: Infidelity; marriage; man-woman relationships; love.

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[1] Graduanda do curso de Psicologia da Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC) de Vitória da Conquista, BA.
[2] Psicóloga, mestre em Psicologia, professora e coordenadora do curso de Psicologia da Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC) de Vitória da Conquista, BA.
[3] Psicólogo (CRP 06/75185). Mestre pelo Departamento de Psicologia Experimental do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo e doutorando do Departamento de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Site: www.thiagodealmeida.com.br (Instituto de Psicologia da USP – Departamento de Psicologia Clínica)